GABRIELA BAGALHI HORTÊNCIO
Psicóloga e Psicanalista CRP 06/98144
Administradora do Espaço Real
Formada em Psicologia desde 2009, fez o Curso de Formação de Psicanálise no Clin-a Clinica da Ansiedade, fez outros diversos cursos de atualização de crianças, adolescentes e adultos na clínica psicanalítica, trabalha na região do Tatuapé como Psicanalista desde 2010 presencialmente e online também. Tem experiência em casos de luto, depressão fobias, ansiedade, insegurança, transtorno e deficit de atenção e hiperatividade, abuso de álcool e drogas, transtorno e bipolar, psicoses em geral, laudos psicológicos entre ouros. Tem o foco na escuta do paciente, que ao falar livremente, conta sua história do lugar em que se posiciona, fala das repetições, que muitas vezes o aprisiona no sentido construído, sendo a função da análise reconduzir à causa com a finalidade de mudar essa lógica criada por ele e propiciar novas formas de satisfação.
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Por que buscar um tratamento psicanalítico?
Os atendimentos são realizados através da abordagem psicanalítica de crianças, adolescentes, adultos e idosos, mas quais os benefícios do tratamento psicanalítico?
Um tratamento psicanalítico propõe-se a não só a aliviar os sintomas com sofrimento psíquico como também, e principalmente, tentar promover algumas mudanças no mundo interno do sujeito, permitindo que ele possa se posicionar de outras formas, lidando com as marcas de sua história de vida, que na maioria das vezes são inconscientes. A psicanálise está longe de prometer felicidade, já que lidar com essas questões é custoso, muitas vezes uma jornada de longo curso, mas na maioria das vezes possibilita uma melhor qualidade de vida, ajudando o sujeito a viver e se situar no mundo de forma mais confortável, despertando talentos e capacidades, e ajudando o sujeito a lidar com suas dores que muitas vezes o mantém em uma situação de intenso desprazer.
Você pode procurar o acompanhamento para resolver crises vitais, resolver sintomas de quadros de transtornos mentais, como angustias, fobias, ansiedades em geral, lidar melhor com situações difíceis como alcoolismo, abuso de drogas, luto, propiciar melhor adaptação na família, sociedade e trabalho, entre outros. Toda e qualquer pessoa pode colher benefícios de um tratamento com base psicanalítica, desde que exista uma motivação para se submeter ao tratamento.
Interpretação na análise
A partir do associar livremente, o analisando fala espontaneamente, conta sobre si mesmo, e pelo fato de falar, a coisa se ordena nem que seja sob a forma da colocação em série do que acontece, ou até mesmo pelos medos que aparecem. De alguma forma a trama vai se formando. Aparece como um acaso e o analista vai transformando essa simples contingência na trama, e vai aparecendo como se fosse uma vocação, um destino do sujeito. O analista vai transformando as repetições do sujeito na articulação de uma trama, em sentido. Esse sentido muitas vezes não tem a ver com o próprio sujeito, foi passado a ele em um momento que tiveram pessoas disponíveis em seus cuidados, ou seja, foi falado por alguém.
Na análise ocorre a articulação desses sentidos, dessa trama, a partir do que foi dado pelo Outro, apontando para o fora de sentido, reconduzindo o sujeito aos seus elementos primordiais. Ou seja, não se trata de dar ou gerar sentido, é uma operação de desarticulação, de corte a lógica.
Valor da sessão
Durante o primeiro contato definimos um investimento possível para o tratamento e para essa primeira entrevista.
Final de análise e o gozo feminino
A linguagem afeta o corpo e o psíquico, causa furos no corpo através da contingência significante na experiência singular de cada um levando a identificação com o sintoma, é o que referencia Brousse (1920). Como o analista opera com isso para se chegar ao gozo?
O gozo feminino vai além do binarismo masculino e feminino, ex-siste, não-todo regido pelo fálico, fora da cadeia significante. É o gozo como tal, não é coisa de mulher, se entrega ao exílio do Outro, um acontecimento de corpo, fora de sentido. O corpo que se trata aqui não se define pela imagem, ou pela forma, como o corpo do estádio do espelho, nem é o corpo que seria da relação sexual, mas um corpo material feito pelo choque com a lalíngua que fez dele um aparelho de gozo, não simbolizado e indizível. É o que Fernanda Otoni, Ana Lucia Lutterbach e Elisabete Siqueira ressaltaram no Eixo de orientação do XXI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano.
Lacan (2008) fala que a mulher não pode se escrever, é enunciada pelo não-todo e o a só existe barrado. A mulher se relaciona com esse Outro, esse lugar onde vem se inscrever tudo o que se pode articular o significante e ao Outro barrado. A mulher pode ou não ter relação com o falo, relacionando-se ao gozo infinito.
Como a partir desse infinito, o analista pode operar na invenção de laços? Como o analista opera com o que está inerte, com o que não faz história, com o que não cessa de não se escrever? Como esse infinito, sem limite se relaciona com o infamiliar? E como o analista opera com ele relacionando ao fim de análise?
O estranho para Freud (1996) remete ao que é assustador, o que provoca medo e horror e ao mesmo tempo ao que é conhecido de velho e familiar. Freud fala em algo reprimido que retorna, um estranho que não é nada novo, mas que deveria ter ficado oculto. Podemos pensar também em algo da imaginação que aparece na realidade, como a psicose que não tem uma fantasia para se proteger, sendo algo amedrontador para ele. Já na neurose o sujeito se defende do exílio do Outro com a fantasia, mas a idéia do aprofundamento é o que fica de fora da fantasia, do recalque.
Sergio de castro em seu texto “ O unheimlich , o feminino e o retorno dos patriarcas” relaciona o infamiliar ao gozo feminino já que ambos rompem os limites imaginários e simbólicos.
Alvarenga em seu texto de orientação para o XXIEncontro Brasileiro do Campo Freudiano chamado “o objeto da angústia” fala do uheimlich, o infamiliar e o feminino a partir da elaboração do objeto a, como objeto da ordem do real e não um significante.
A umnheimlichkeit, nome dado à angústia por Lacan (2005) aparece no lugar da castração sem a imagem da falta, indo além da sustentação fálica, além do significante, dando acesso à irredutibilidade do real. Fala dos objetos que não faltam que causariam a angústia, um sinal de aproximação.
Se o significante não dá conta do seu modo de gozo de sujeito, como a análise pode livrar o sujeito de sua submissão ao objeto a? Como acessar a pulsão e o que fazer com ela?
O fato do objeto a ser irrepresentável e não significantizável, não significa que ele tenha de ser eliminado ou retido. É possível fazer um enigma com ele, apontar para onde faz furo, é o que diz Lacan (2003). Há o furo do saber preenchido com gozo. A letra simboliza os efeitos do significante, sendo o significante primário. O significante é habitado por quem fala e a letra é consequência. Essa letra é morada do vazio, preenchido pela angústia, mas apoiando o significante. Lacan fala do rompimento do semblante deixando a marca do traço unário e da pulsão, o gozo no real.
Novamente Alvarenga cita que a angústia sentida pelo sujeito transforma o gozo resto de toda significantização e da imaginarização em objeto causa do desejo e que a angústia aparece quando surge algo no lugar da castração, um quantum suplementar de exigência pulsional como objeto que permanece investido em um gozo auto-erótico.
Já o desejo, diz Lacan (2008), se inscreve por uma contingência corporal. O falo é a causa do desejo que não se escreve. No discurso analítico o a se sustenta pelo s2, quer dizer, pelo saber no que ele está no lugar da verdade. É dali que ele interpela o S, o que deve dar a produção de s1, do significante que pode resolver a relação da verdade, a regra do gozo. O analista ao colocar o objeto a no lugar de semblante interroga o saber colocado no lugar da verdade. Descobre-se que há um saber que não se sabe, que se baseia no significante como tal.
Existe um sentido gozado de acordo com Miller (2015), que seria a junção do significante e do gozo que resulta na identificação fálica, ou seja, união entre simbólico, imaginário e real, a fantasia. Separar o sentido do gozo fazendo um enigma nessa causa de desejo, seria um caminho para o gozo feminino e seria essa a função do analista? Será que com isso é possível afinar-se com a pulsação do falasser?
Lacan (1998) fala sobre o analista pagar com palavras, para efeito de interpretação. Paga também com sua pessoa, já que empresta sua pessoa para suporte aos fenômenos singulares que a análise descobriu na transferência. O analista é o homem para quem se fala livremente, porém Lacan mesmo realça que nada é menos livre, já que a linguagem não preenche tudo, o ser de linguagem é o não-ser dos objetos. O desejo é a impossibilidade da fala. Como acessar o real via essa impossibilidade?
O gozo feminino, segundo Bessa (2012) exige ao parceiro amoroso que se apresente como A, que lhe falte algo, justamente para que ele lhe fale, uma falta que o faça falar. Faltam-lhe palavras. Como o analista opera com isso em análise?
Lacan (1998) fala da escuta do analista para além do discurso, devendo ouvir sem a pretensão de compreender e que ao compreender se engana. Deve se calar e com isso frustra o paciente, o deixando sem resposta. Paga-se o analista por esse nada, e assim aparece os significantes que o marcaram e a sua falta a ser. O analista deve-se obrigar ao silêncio para reencontrar o ser desabitado?
É o que afirma Irene Kuperwajs quando fala que o analista se cala para que o outro fale e que ao falar deve colocar um limite no monólogo autista do gozo.
Ao destituir o Outro, a fantasia, o objeto, cabe cada analista com a sua singularidade encontrar formas de fazer diferente da interpretação inconsciente do seu analisante e escutar esse gozo que não fala, o gozo feminino, para que cada sujeito possa tecer o seu nome, um semblante que não se confunda com o objeto a e com falo, mas sirva-se dele para esse impossível de dizer.
Bibliografia
Bessa, G. L.P. Feminino: um conjunto aberto ao infinito. Belo Horizonte. Scriptum Livros, 2012.
Brousse, Marie-Hélène. “As identidades, uma política, a identificação, um processo, e a identidade, um sintoma”. IN: Opção lacaniana on-line. Nova série. N. 25/26. ano IX. Julho 2018. Disponível em:
http://www.opcaolacaniana.com.br/texto5.html
Freud, S. “O estranho” . IN: Uma neurose infantil e outros trabalhos. Obras completas, v. XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1970.
Lacan, J. [1962-63]. O Seminário, livro 10: a angústia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
Lacan, J. [1972-73] O seminário, livro 20: mais, ainda. Rio de Janeiro: Zahar, 2008
Lacan, J. [1958] “A direção do tratamento”. In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998
Lacan, J. [1971] “Lituraterra”. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
MILLER, J. A. O osso de uma análise. O inconsciente e o corpo falante. Rio de Janeiro: Zahar. 2015.
Alvarenga, Elisa “O objeto da angústia” IN: Encontro Brasileiro 2020. Disponível em http://www.encontrobrasileiro2020.com.br/-o-objeto-da-angustia/
Castro, S. “O unheimlich, o feminino e o retorno dos patriarcas” IN: Encontro Brasileiro 2020. Disponível em http://www.oencontrobrasileiro2020.com.br/o-unheimlich-o-feminino-e-o-retorno-dos-patriarcas/.
Lutterbach, A. L., Siqueira, E. , Otono, F. “Gozo feminino ou gozo como tal” IN: Encontro Brasileiro 2020. Disponível em http://www.encontrobrasileiro2020.com.br/eixo-2-o-gozo-feminino-ou-o-gozo-como-tal/.
Kuperwajs, I. “Silêncios”. IN: Encontro Brasileiro 2020. Disponível em http://www.encontrobrasileiro2020.com.br/-silencios-/
Gênero e Psicanálise
Gênero para psicanálise é um lugar de questionamento, não encontra respostas em normas sociais, fala do 1 a 1. Para psicanálise essa questão obedece o regime de contingência, onde há a impossibilidade de saber para prever, ou seja, a pessoa é obrigada a fazer experiência através do seu ser que lhe escapa. O gênero mais que uma norma, um estado do ser, é um caminho, um percurso, um vir a ser.
O gênero em Psicanálise é conhecido para além dos determinismos anatômicos ou sociológicos, sendo de uma ordem psíquica e inconsciente. Esse determinismo psíquico decorre da história do sujeito e testemunha a maneira como ele se reconhece a partir dos encontros que fez e como achou-se único, ou seja, que ele faz com o que fizeram dele. O ser que fala não é um sujeito sem gênero, universal e racional, é um ser sexuado. Ser sexuado não é nem hetero, nem homossexual, é um ser capturado pelo desejo do Outro. É um ser atormentado pelo seu desejo que vem falar de tudo que escapa ao voluntarismo racionalista. Um sujeito que não confia plenamente no seu desejo.
Na fala analítica ele encontra um lugar onde não será julgado, nem denunciado e nem corrigido que irá se fazer conhecer. É um sujeito que se questiona sobre o seu ser sexuado. Se os psicanalistas falam pouco é para não sugestionar seus pacientes transmitindo uma teoria feita sobre seus sintomas. O saber vem da enunciação do paciente. Trata-se de uma certa relação com o desejo que deverá vir ali onde o sujeito não sabe mais o que ele é , nem o que ele quer. O sujeito inventa sua própria relação com o gênero a partir da sua experiência de desejo.
As categorias de homem e mulher em psicanálise são o resultado de um percurso subjetivo do ser falante a partir do seu próprio interesse em seu desejo.
A Psicanálise busca desapegar das normas para se chegar ao desejo e gozo que remete a uma excentricidade a uma anormalidade irrepresentável. A psicanálise faz do sexo e do gênero um enigma para o sujeito. O discurso sobre o sexo e o gênero se torna lugar a partir de um questionamento de toda a crença das normas. A coerência de um ser é perturbada e as certezas são abaladas e mais do que buscar um encaixe trata-se de querer saber das faltas e dos desejos.
A anatomia dos sexos não se inscreve do ponto de vista psíquico, o modelo unissex seria o primeiro meio no qual o menino e a menina abordam o corpo sexuado. Tanto um como o outro percebem que seu corpo não é idêntico ao sexo oposto. O primeiro tempo é de apreensão do sexo e do gênero, mas o que vai pesar são as formas de gozo e desejo, entre a falta a ser e a pulsão. Essas são reflexões baseadas na Psicanálise Lacaniana e no livro o Ser e gênero de Clotilde Leguil (2016).
Referências
LEGUIL, C. O ser e o gênero: homem/ mulher depois de Lacan - Belo Horizonte: EBP Editora, 2016.